24.6.09

Olhares diferentes sobre o Mercado do Bom Sucesso


Mercado do Bom Sucesso


Olhares diferentes sobre o Mercado do Bom Sucesso
Com esta exposição colectiva quisemos contrapor diversos olhares sobre um importante equipamento da nossa cidade: o grande mercado de frescos, projectado em 1949 pelos arquitectos Fortunato Leal, Cunha Leão e Morais Soares, na zona da Boavista: o Mercado do Bom Sucesso. Embora próximo deste início de século, este mercado é um ícone excepcional a par de outros edifícios identitários da nossa cidade, quer pelas suas qualidades plásticas, quer como exemplo da arquitectura da época que reflecte as influências do Movimento Moderno, quer finalmente como uma memória dum espaço de mercado com vivências múltiplas na Cidade do Porto.
Há uma primeira série de fotografias – Espaço arquitectónico e vivências - que está mais próxima do mundo da arquitectura porque o olhar do fotógrafo é o de alguém que possui uma maior intimidade com o desenho dos edifícios e a forma como estes se relacionam com o contexto urbano. É uma proximidade que, naturalmente, também traduz perspectivas diferentes de acordo com os objectivos e o perfil do fotógrafo e onde também encontrámos um olhar sensível que tenta compreender as pessoas que usam e trabalham o espaço de mercado. Isto não deve surpreender porque em muitos dos trabalhos de fotógrafos de referência nós também detectámos estilos e propósitos diversos. Nesta série de fotografias, um primeiro grupo de imagens procura um olhar que é uma exploração do que refere Eric de Maré [1] “the photographer is perhaps the best architectural critic, for by felicitous framing and selection he can communicate direct and powerful comments both in praise and protest”. Isto significa que as fotografias deste grupo procuraram claramente investigar e dar “força” a um conjunto de características plásticas e perspécticas que a arquitectura do mercado do Bom Sucesso possui. Na verdade, nós manipulámos propositadamente a visão monocular da fotografia, no sentido referido por Stephen Shore [2], para melhor desvendar relações espaciais que antes não eram tão visíveis: o olhar do fotógrafo selecciona a localização e direcção de câmara para que isso aconteça. Existe ainda nesta primeira série um segundo grupo de fotografias que tenta comunicar as vivências e os diferentes tipos de uso que o mercado do Bom Sucesso actualmente integra, um pouco como Maré fez relativamente aos canais Ingleses. Neste segundo grupo existe também um conjunto de imagens que explora diferentes níveis de abstracção e capta os diferentes ambientes do mercado, manipulando de forma combinada ou isolada a luz, o espaço e o movimento das pessoas. As palavras-chave, nesta primeira série, estão ordenadas numa escala que relaciona a arquitectura do Mercado do Bom Sucesso com diferentes leituras do espaço e diferentes níveis de abstracção: Espaço, Elementos, Pormenor, Luz, Cor, Ambiente, Vivências. Na segunda série de fotografias – Espaço subjectivo - os mesmos espaços e edifícios surgem agora mais como signos artísticos e culturais, deixando transparecer um universo de preocupações que não está só dirigido para o mundo da arquitectura tradicional. É um olhar assumidamente subjectivo que utiliza o tema e a matéria da arquitectura para comunicar algo mais do que é comum em fotografias de arquitectura . Existe, assim, um primeiro grupo de imagens pertencente a esta série cuja ênfase é na natureza deserta, abandonada e esquecida que os espaços e ambientes do Mercado de Bom Sucesso transparecem. Aqui as palavras-chave são Desolação, Isolamento, Abandono, Ausência. Num outro registo , existe um segundo grupo de imagens também desta série que é manipulado digitalmente, (re)criando os espaços do mercado através de composições e montagens onde a simetria, a repetição e a cadencia são utilizadas de forma a explorar a sensação de imensidão, a passagem lenta do tempo e os diferentes ritmos daquele sublime espaço. Procurou-se, neste quarto grupo de fotografias, explorar determinadas variáveis que minassem a natureza mimética e cartesiana da representação do espaço e do tempo. Aqui as palavras-chave são Subversão, Simetria, Cadência, Tempo.


Notas bibliográficas [1] Eric de Mare, ‘Eric de Mare: architect, photographer, writer’, National Monuments Periodical, 2007; http://viewfinder.english-heritage.org.uk/story/intro.aspx?storyUid=73 [2] Robert Elwall, Building with light, London, 2004. [3] Gabriele Basilico, Arquitectura em Portugal : um roteiro fotográfico, Porto, 2006. [4] Stephen Shore, The Nature of Photographs, New York, 2007. [5] Gloria Moure, ed, Architecture without shadow, Barcelona, 2000. [6] Katherine Westerhout, ‘Katherine Wesrhout: Photographer’, 2007; http://www.katwest.com/ [7] ANNI GÜNTHER Nonell; TAVARES, Rui (1992). O mercado do Bolhão : estudos e documentos. coord. Anni Gunther Nonell ; org. Centro de Estudos da FAUP;. Porto CMP.

Curadoria: Pedro Leão Neto
Fotografia: Tiago Casanova; Frederico Campos; Clara Vale; Vantage point; Bluelion

Links
http://web.ccre.arq.up.pt/projectos/show.php?projecto_id=321
http://web.ccre.arq.up.pt/projectos/show.php?projecto_id=326
http://web.ccre.arq.up.pt/projectos/show.php?projecto_id=324
http://web.ccre.arq.up.pt/projectos/show.php?projecto_id=327
http://web.ccre.arq.up.pt/projectos/show.php?projecto_id=328
http://web.ccre.arq.up.pt/projectos/show.php?projecto_id=325




Sem comentários:

Enviar um comentário