22.5.09

Abandoned: Joni Sternbach


A great photograph is one that fully expresses what one feels, in the deepest sense, about what is being photographed.
Ansel Adams


Joni Sternbach é uma interessante fotógrafa americana com um Master in Arts. Photography - 1987 New York University/International Center of Photography . Foi responsável, no ensino privado e oficial, pela condução de diversos workshops versando técnicas memoráveis na revelação de fotografia, mais especificamente no processo chamado Wet Plate Collodion. Isto significou, entre outras coisas, a não utilização de câmara ou laboratório digital e a obtenção de imagens com características formais vizinhas das que podemos encontrar nas fotografias obtidas por processos de revelação utilizados no passado. É actualmente instrutora adjunta na área do ensino da Arte na Universidade de Nova Iorque, estando os seus trabalhos patentes em diversas publicações, galerias e variados programas e eventos, sendo uma das fotógrafas seleccionadas no Festival de Fotografia de Nova Iorque em 2009.

O seu trabalho dos últimos anos tem-se caracterizado por uma exploração muito particular dos temas da fotografia de paisagem, costa marítima e arquitectura. Trabalhando com câmaras de grande formato e com processos de revelação históricos, as suas fotografias exploram o factor tempo e a forma como este marca e transforma os objectos e as pessoas. Joni Sternbach interessou-se, assim, por tudo aquilo que, de forma significativa, tivesse uma existência caracterizada por um constante estado de transformação “At this juncture between land and sea, I explore subject matter in a constant state of transition.”

O formato de 8” por 10” permite a J. Sternbach transmitir muito bem a imensidão dos locais de praia das costas Este e Oeste americanas e, desta forma, as imagens dos diversos surfistas e artefactos naturais ou arquitectónicos “abandonados” nestas orlas marítimas são fotografias muito transparentes, com grande profundidade de representação e uma poética muito particular. Repare-se também como a força da maior parte das fotografias, quer versem sobre as pessoas ou os objectos arquitectónicos, nasce do interior de cada imagem e para o facto de a moldura dessas fotografias ser quase sempre passiva. Esta gramática visual foi utilizada com mestria para dar importância aos objectos que são o centro da atenção da fotógrafa e simultaneamente dar força aos elementos naturais e comunicar a vastidão da envolvente constituída por mar, praia e rocha. É também interessante notar como a técnica e as características do processo “wet plate” - o emulsionamento da placa de vidro e a revelação, no próprio local da foto, logo após o click - foram utilizadas com sucesso pela artista. Não só todo o material e procedimento fotográfico inerente a este processo foi um factor de aproximação e sociabilização com os surfistas, como também o grande formato permitiu a J. Sternbach reforçar a sua visão particular e poética sobre estes espaços e as pessoas que com eles interagiam. Estou a referir-me especificamente à aparência artesanal e rude com que este processo de revelação caracteriza as fotografias, o que permitiu a J. Sternbach brincar de forma deslumbrante e imprevisível com a luz nas diversas situações retratadas e comunicar a intemporalidade daqueles elementos e situações em constante transformação. Na verdade, o facto de a revelação obrigar o fotógrafo a um cálculo de tempo de exposição artesanal juntou um importante factor “mágico” de surpresa ao resultado final.


Enfim, um conjunto de narrativas visuais de grande força poética e existencial sobre a presença humana no espaço natural e que explora os vestígios da passagem do tempo e da transformação constante dos objectos.

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